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sábado, 21 de fevereiro de 2009

Edição Fevereiro 2009


A edição de Fevereiro 2009 do Anunciador apresenta:
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Experiências de reutilização de materiais nas escolas II - Liceu Dr. Rui Cunha
Opinião dos alunos: o que significa para ti o "Dia dos Namorados"?
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Reportagem O papel da mulher na sociedade guineense
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Entrevista a Fernanda Pinto Cardoso - Jornalista
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Entrevista a Urcelina Gama Gomes - Presidente do Instituto da Mulher e da Criança
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Reportagem Homens-lobo e outros mitos
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Experiências de reutilização de materiais nas escolas I - Liceu Nacional Kwame N'Krumah e Liceu Dr. Agostinho Neto
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Como podemos contribuir para um ambiente mais limpo?

Poesia: Amadú Dafé
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Cidadania

Experiências de reutilização de Materiais II
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No dia 12 de Fevereiro de 2009, realizou-se na Oficina em Língua Portuguesa do Liceu Rui B. Cunha um atelier de reutilização de materiais, alusivo ao Dia dos Namorados.
No início da actividade, a professora Susana Fonseca explicou aos alunos os objectivos do atelier e da reutilização do lixo: cada participante deveria criar um presente para oferecer ao namorado ou namorada, sem gastar dinheiro e utilizando exclusivamente materiais “inutilizados”. Entre estes materiais encontravam-se, por exemplo, restos de papéis e cartões, pacotes de leite vazios, restos de tecidos, caixas inutilizadas (de medicamentos, bolachas, etc.) ou latas de refrigerantes.
Quanto aos restos de cartões coloridos, muito usados pelos alunos nos seus trabalhos, a professora Ana Sofia Morgado explicou onde poderiam ser encontrados. As gráficas da cidade colocam diariamente no lixo restos de cartões e papéis, que podem ser recolhidos por qualquer interessado.
Nelida Nanque, uma das alunas que participou nesta actividade, considera que este tipo de iniciativa deveria decorrer mais vezes. Ficou muito contente por poder oferecer um presente ao namorado, reaproveitando materiais como cartões inutilizados, teclas velhas de computadores e pedaços de uma lata de refrigerante. Paluxo Ié, outro participante, diz-nos que é importante passar a ideia de que é possível fazer coisas bonitas reutilizando materiais, sem gastar dinheiro.
O atelier de reutilização de materiais decorreu durante todo o dia 12 de Fevereiro. No dia 13 foram divulgados os vencedores, que levaram para casa uma capa e um caderno.

Por: Dauda Pires

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O que significa para ti o "Dia dos Namorados"?

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Neto António Maculino acha o dia dos namorados “um dia muito interessante para o casal, já que é um momento em que se podem preparar surpresas um para o outro”. Da sua parte “já tem tudo preparado: um envelope fechado, uma fotografia e um anel”. Resta saber o que está dentro do envelope, mas isso será uma surpresa…
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Para Ana Cá, o dia dos namorados é muito especial porque é uma oportunidade “para lembrar a felicidade que sente por estar com o seu namorado”. Lamenta “não haver muito dinheiro para prendas”, mas considera que “flores são uma boa prenda de amor”.
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É um dia especial, em que temos a oportunidade de mostrar que gostamos do nosso namorado(a). Já sei o que vou oferecer ao meu namorado: um anel, uma fotografia e alguns poemas. Gosto de receber roupa e calçado ou então uma pulseira ou um anel.
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Antonieta da Silva namora há quatro anos. Na sua opinião, “este dia deve servir para os namorados estarem a sós e debaterem a sua relação, para que haja uma boa compreensão entre eles”. Quanto a prendas, Antonieta gosta de “dar e receber fotografias ou postais que a façam recordar este dia.”
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Por: Dauda Pires e Bubcacar Seidi

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O papel das mulheres na sociedade guineense

Porque é que as mulheres “desistem” mais facilmente dos estudos?
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No dia 30 de Janeiro, data da morte da combatente Titina Silá, comemora-se o Dia Nacional da Mulher Guineense. Está é uma data que pode servir para pensarmos sobre o papel da mulher na sociedade guineense e para reflectirmos sobre os motivos que estão por trás de algumas situações de desigualdade de género no nosso país. Podemos perguntar, por exemplo, por que motivo há mais raparigas do que rapazes a desistirem da escola? Para respondermos a esta questão, falámos com algumas mulheres que trabalham perto do nosso liceu. No entanto, e para além das experiências pessoais destas mulheres, há outras questões que também devem ser abordadas, pelo que entrevistámos duas mulheres de destaque na defesa dos direitos da mulher guineense: Urcelina Gomes, presidente do Instituto da Mulher e Criança e Fernanda Pinto Cardoso, jornalista*.
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Rosa Joaquim tem 39 anos, é vendedora de sandes e doces em frente ao Liceu Dr. Rui B. da Cunha, no qual é também funcionária de limpeza. Concluiu a 4ª classe, mas não pôde prosseguir os estudos porque segundo os homens grandes da tabanca Patchi Iala, onde cresceu, as mulheres que estudavam não poderiam ser boas mulheres, pois não iriam obedecer aos maridos nem dar valor aos trabalhos domésticos e à lavoura. Aos treze anos os pais deram-na em casamento a um tio. Na altura tinha outro namorado, mas desistiu dele e decidiu aceitar o casamento forçado porque não queria ficar sem ninguém nem ser rejeitada pela família.
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Aissatu Baldé também é vendedora, tem 25 anos e é a primeira mulher do seu marido. O pai morreu quando era pequena, por isso foi educada pela mãe e pelos tios, que a proibiram de ir à escola. Nunca estudou, apesar de o ter pedido várias vezes. Aos doze anos foi dada em casamento. Na altura vivia em Mansoa e conseguiu refugiar-se em casa de uma tia, em Gabú, durante um ano. Os tios foram buscá-la com treze anos, fizeram-lhe a djanfa e levaram-na ao muro (feiticeiro), que conseguiu convencê-la a casar. Tem dois filhos e quer que eles estudem sem problemas e que aprendam muitas coisas.

Filomena Moreira tem 34 anos e é professora no Liceu Rui Cunha. Formou-se em História e Geografia, mas é com alguma tristeza que lembra o ano em que teve que suspender os estudos, na 9ªclasse, com 17 anos, porque ficou grávida. Não era permitido a uma menina grávida frequentar a escola durante o dia, só à noite. Apesar disso, Filomena não considera que factores religiosos ou culturais, como a sua etnia, tenham definido o seu percurso de vida, mas sim a sua força de vontade.

Augusta Té é funcionária num liceu de Bissau, tem 40 anos e nunca foi à escola. Os pais não a autorizaram a ir à escola e reservaram-lhe um casamento tradicional, com um homem 30 anos mais velho do que ela. Resignou-se à sua sorte e teve sete filhos, um dos quais já faleceu. Entretanto o marido morreu e voltou a casar com outro homem, desta vez à sua escolha.

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Dauda Pires, Telésfora Salvador, Midana Sampa,
João Gomes, Josefa Bassim, Justino Ié
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*Entrevistas publicadas em primeira mão no jornal Nô Pintcha, em 30 de Janeiro de 2009, por ocasião do Dia Nacional da Mulher Guineense

Jornalista Fernanda Pinto Cardoso

Jornalista Fernanda Pinto Cardoso
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Fernanda Pinto Cardoso nasceu em Bissau a 26 de Maio de 1964. Licenciou-se em Jornalismo Internacional em Moscovo e estagiou no CENJOR (Centro de Formação para Jornalistas) em Lisboa. É um dos rostos da Televisão da Guiné-Bissau (TGB), que dá a conhecer aos guineenses as principais notícias nacionais e internacionais da actualidade.

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A: Considera que na Guiné-Bissau existe igualdade entre homens e mulheres?
FC: A mulher guineense tem um grande caminho a percorrer para acabar com a desigualdade de género. A nível político, por exemplo, em termos de lugares de decisão há várias situações que podemos apresentar como deficitárias no que respeita à representatividade feminina, como o caso da Assembleia Popular. Também ao nível da formação do governo, em cerca de 20 ministérios geralmente contamos com 5 mulheres, o que deixa claro o desequilíbrio entre a representatividade feminina e masculina.
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A: Porque é que, na sua opinião, não há mais mulheres a desempenhar cargos de decisão?
FC: Os cargos políticos são definidos politicamente. Na minha opinião são os próprios partidos políticos que não estão a dar importância às mulheres, pois não incluem essa questão nos seus estatutos. Outro problema relevante são as lacunas ao nível da escolarização das mulheres. Há uma grande percentagem de analfabetismo feminino na Guiné-Bissau. Este factor impede a igualdade de circunstâncias entre homens e mulheres.
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A: Que motivos podem ser apontados para o facto de as raparigas desistirem mais facilmente dos estudos que os rapazes?
FC: As raparigas desistem mais facilmente dos estudos do que os rapazes. Isto está relacionado com várias questões, como a zona de residência, a etnia ou a religião das famílias. A Guiné é um país rico em termos de diversidade étnica, cultural e religiosa. Cada etnia tem as suas regras e há etnias que dão preferência aos rapazes. A própria localização da escola fica muitas vezes longe da tabanca, pelo que os pais se inibem de deixarem as filhas frequentar a escola. Por outro lado, em termos de lides domésticas, é tradição as raparigas ocuparem-se destas funções. Mas tem-se feito um trabalho de sensibilização junto dos pais e tem-se visto a questão das acessibilidades para a escola. Em termos de parcerias internacionais, o papel do Programa Alimentar Mundial, por exemplo, também tem sido importante, nomeadamente com o incentivo das cantinas escolares, tanto para as raparigas como para os rapazes e até aos pais. O objectivo é diminuir o abandono escolar.
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A: Existem mulheres de referência na Guiné-Bissau e em África?
FC: Apesar do analfabetismo feminino generalizado, também temos casos de mulheres líderes na Guiné-Bissau, que deram provas de grande capacidade. Cármen Pereira foi presidente da Assembleia Nacional Popular, Filomena Tipot foi Ministra das Forças Armadas, ambos lugares tradicionalmente desempenhados por homens. Ao nível de África, podemos também referenciar a Presidente da República da Libéria, que é mulher. Fora da Política, em termos empresariais, na saúde e ensino, também há outras mulheres podem fazer algo pelo país se tiverem oportunidade.
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A: O que é que pode ser feito para aumentar a representatividade feminina em cargos de decisão?
FC: Primeiramente é preciso que os partidos mudem os seus estatutos internos, de forma a privilegiar a igualdade e equidade no seio do partido. A Plataforma Política da Mulher tem vindo a reivindicar esta mudança. Esta plataforma é um grupo criado por mulheres parlamentares da CPLP, da UEMOA, da própria sociedade civil e dos partidos políticos, com o objectivo de fazer pressão junto dos próprios partidos políticos e de promover a mulher em diversas áreas. Por exemplo, durante o período eleitoral a Plataforma tentou exigir a obrigatoriedade de uma quota de 40% de mulheres nas listas de candidatos a líderes da nação. Infelizmente nãotivemos o resultado que queríamos, mas a Plataforma não se desencoraja perante estas dificuldades, porque ainda há um longo caminho a percorrer. Tentamos fazer lobby para a inclusão de mais mulheres nos cargos de decisão.
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A: Como se sente quando uma mulher é chamada a desempenhar um cargo?
FC: É um orgulho quando uma mulher é chamada a desempenhar um cargo político, sobretudo quando estamos perante uma mulher à altura do cargo. Porque também é bom dar o cargo a quem o merece. Não se trata só de dar oportunidades às mulheres, mas sim de dar oportunidades às mulheres que as merecem.
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A: Na comunicação social é posta em prática a igualdade entre homens e mulheres?
FC: Na TGB, por exemplo, somos poucas mulheres, embora tentemos criar espaços para dar voz e incluir as mulheres. Mas realmente não existe um grupo de género dentro da comunicação social. Há um trabalho a fazer nesse sentido, até porque a maioria dos jornalistas guineenses são homens. Isto nota-se ao nível dos altos cargos da comunicação social e também até no próprio tipo de reportagens publicadas.
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A: Existe algum apelo que seja importante fazer passar relativamente a este tema?
FC: Existe um documento internacional, ratificado pela Guiné-Bissau, que é a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, o qual diz tudo sobre os direitos da mulher. É preciso pôr esse documento em prática, aplicar esta convenção. Neste momento, faço um apelo ao Estado da Guiné-Bissau para fazer aplicar esse documento. Quando isso acontecer, quando esse documento for posto em prática, então os direitos das mulheres serão respeitados.
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Telésfora Salvador, Midana Sampa, Josefa Bassim, Ocante Ié

Urcelina Gama Gomes - presidente do IMC

Urcelina Gama Gomes, presidente do Instituto da Mulher e Criança

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Urcelina Gomes nasceu em Bissau a 12 de Março de 1966. É jurista de profissão e está há quatro anos no Instituto da Mulher e Criança. Também gosta de moda e, nos tempos livres, é estilista.

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A: Qual é a razão do aparecimento do Instituto da Mulher e Criança?
UG: Havia necessidade de criar uma instituição, por parte do Estado, que tratasse de todos os assuntos da mulher e da criança. Por isso foi fundado este instituto em Fevereiro de 2000. O papel do instituto é fazer respeitar os direitos das mulheres e das crianças na sociedade guineense.

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A: Como é que protegem os direitos das mulheres?
UG: A melhor forma de proteger a mulher e a própria criança é ensinar-lhes a conhecerem os seus direitos e deveres e como é que devem protegê-los.

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A: É possível fazer-nos uma caracterização da mulher na sociedade guineense?
UG: A mulher guineense é batalhadora e, ao mesmo tempo, sofredora e triste. A pobreza é a principal causa deste sofrimento e tristeza.

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A: São as mulheres que procuram a instituição ou é a instituição que vai ao encontro das mulheres?
UG: Algumas mulheres procuram a instituição, mas muitas vezes é o instituto que vai ao encontro das mulheres depois de uma denúncia. Apoiamos no caso de violações e fazemos o encaminhamento desses casos para a justiça. Também actuamos no apoio à maternidade.

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A: No caso das mulheres que procuram a instituição, quais são as razões mais frequentes que as levam a dar esse passo?
UG: É a violência doméstica. A maior parte dos acompanhamentos que fazemos estão relacionados com os desentendimentos entre homem e mulher. Fazemos um trabalho de mediação, baseado no diálogo e na sensibilização. Por outro lado, também temos uma grande preocupação com a violência contra as crianças. Há casos de crianças violadas e espancadas. Tivemos um caso há pouco tempo de uma criança que foi espancada por causa de mil francos.

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A: Quais são as dificuldades que a instituição encontra?
UG: Às vezes há resistência e somos obrigados a ser acompanhados pela polícia, porque o nosso papel não é fazer a justiça mas sim orientar tanto o homem como a mulher. Por parte das mulheres, o instituto é bem acolhido. Às vezes as mulheres sofrem em silêncio há muitos anos e aproveitam a oportunidade para exteriorizarem e até resolverem os seus problemas. A maior parte das mulheres tem interiorizado o princípio de que tem que sofrer no casamento para criar bem os seus filhos. São educadas para sofrer. Esta mentalidade está muito longe de ser mudada. Preocupamo-nos em estar presentes e em apoiar. Sabemos que, apesar de haver um longo caminho a percorrer, não podemos agir a qualquer custo e correr o risco de perdermos a confiança conquistada. Não queremos que o instituto seja visto como estando a orientar mal as mulheres, tem que ser um trabalho contínuo.

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A:A mudança de mentalidades passa pela educação, mas a Guiné-Bissau tem uma elevada taxa de analfabetismo e de abandono escolar feminino. Qual é a razão deste fenómeno?
UG: As raparigas desistem mais facilmente dos estudos porque são obrigadas a dedicar-se às tarefas domésticas. Muitas raparigas são levadas para o casamento aos doze ou catorze anos e muitas vezes já foram dadas em casamento à nascença. Há etnias em que é tradição reservar uma filha para o tio. As pessoas alegam que é uma questão de cultura e tradição e que não se pode ir contra estas práticas. O nosso objectivo é mudar esta mentalidade, mas é um trabalho árduo e que não tem resultados de um dia para o outro.

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A: Sente que o balanço do vosso trabalho é positivo?
UG: Já conquistámos muitos aspectos positivos. Sentimos que há sempre algum sucesso na nossa intervenção, sem que haja qualquer violência porque a violência não resolve nada. Procuramos incutir o princípio da calma e do respeito.

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A: Para finalizar, há algum caso que nos queira relatar? Como é que o instituto ajudou a resolver a questão?
Tivemos um caso curioso, em que um homem deixou a mulher, não queria deixá-la ficar com o filho e passava em frente da sua casa na companhia da segunda mulher. A primeira mulher veio ter connosco e nós decidimos chamar o marido, que nos disse que já não amava a mulher. Dissemos ao marido que tinha esse direito mas que procurasse agir de uma forma mais respeitosa, o que o fez reflectir e mudar de atitude. Conclusão… mais tarde acabaram por ficar juntos novamente e às vezes vêm visitar-nos.
Há ainda outra questão delicada na Guiné, que é a questão da mutilação genital feminina. Temos aqui uma pessoa, que trabalha connosco, que já passou pelo mesmo e por isso consegue fazer um trabalho de sensibilização mais eficaz, porque faz parte dessa cultura e consegue ultrapassar o secretismo que envolve estas práticas.

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Djamila Vieira, Abraão Nanque, Mário Albino Ié

Homens-lobo e outros mitos

A mitologa grega conta-nos a história de um rei cruel, chamado Licaon. Zeus, o deus dos deuses, teria ouvido falar dos horrores causados por tal homem e decidiu investigar o que realmente se passava. Licaon recebeu Zeus e, pensando que não seria um verdadeiro deus, deu-lhe a comer carne humana. Mas Zeus, reconhecendo-lhe a malvadez, manifestou a sua ira. Licaon, vendo que afinal estava perante um verdadeiro deus, fugiu para o campo. Como castigo de Zeus, Licaon começou lentamente a sofrer uma transformação em homem-lobo.*
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Imagem retirada da Internet

À semelhança do que acontece com o mito grego de Licaon, um pouco por todo o mundo diferentes culturas têm no seu imaginário histórias sobre homens que se transformam em animais. Na Europa e na América, ouvem-se as histórias dos famosos “lobisomens”, na Ásia ouvem-se as histórias dos homens-tigre e em África dos homens-hiena. Na Guiné-Bissau, são comuns as histórias de homens que se transformam em hienas - geralmente designadas lobos - ou de hienas que se transformam em homens.
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Há relatos de que, numa tabanca em Susana, na região de Varela, uma célebre djambacós (feiticeira) foi, um dia, visitada por homens-lobo. Era noite e havia uma fogueira. Eram neste caso lobos disfarçados de homens, cobertos com mantos, muito embora a sua fala distorcida e os seus pés peludos não tivessem enganado a mulher nem as crianças escondidas dentro da moransa. Os homens-lobo encomendaram uma cerimónia e, depois de realizado o processo, deixaram o “agradecimento” num saco que continha nada mais que um conjunto de ossos de outros animais, em vez do habitual óleo de palma ou arroz tipicamente ofertado por seres humanos. Poucos minutos depois de se afastarem, ouviram-se os uivos das feras. Ora, neste curioso relato parecem estar equilibradas as forças entre estes seres sobrenaturais e os seres humanos, estando estes protegidos pela acção da djambacós, parece até haver uma espécie de troca de favores ou, pelo menos, uma convivência pacífica. O mesmo não acontece noutras versões, segundo as quais esses homens-lobo são eles próprios feiticeiros. Nestes casos, os homens feiticeiros escolhem a floresta e a noite para se transformarem. Transformam-se quando têm um determinado objectivo, como por exemplo roubar um espírito que lhes agrade. Se o feiticeiro conhecer uma criança ou jovem com um bom espírito, transforma-se em lobo para a poder matar e passar esse espírito a um mulher grávida da sua preferência, geralmente sua filha ou sobrinha. Depois dessa cerimónia, nascerá uma criança com o espírito bom das vítimas. Os feiticeiros podem também transformar-se em lobos sem qualquer intuito de beneficiar alguém, agindo apenas por inveja ou vingança.
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Para além das histórias sobre os homens-lobo, existem relatos sobre seres humanos transformados em crocodilos - geralmente designados lagartos. Devido à necessidade que têm de estar perto de água, os homens-lagarto podem ser reconhecidos desde muito cedo e, por isso, têm que ter cuidados especiais para se protegerem. As mães das crianças-lagarto têm que ter sempre o cuidado de ter uma bacia com água em casa, porque, durante a noite, as crianças-lagarto precisam de nadar para chamar o sono. Por outro lado, quando crescem o seu poder é enorme e os seus instintos de vingança são apurados, especialmente em relação aos rapazes que os apedrejavam quando eram pequenos e estavam transformados, pensando que eram verdadeiros lagartos e não seres humanos. Diz-se que os homens-lobo nascem no seio dos balantas de Nhacra, enquanto que os homens-lagarto são balantas de Cuntoe…
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Há muitos anos atrás, na zona que é hoje o bairro do Quelelé, havia uma bonita lagoa rodeada de areia branca. Perto da lagoa, as bolanhas tinham plantações da cana-de-açúcar, nas quais morava uma terrível serpente de um só olho, que se transformava em gente, em vento e em vários animais. Devido ao seu poder de transformação, só os feiticeiros a podiam reconhecer, passando despercebida à maior parte das pessoas. Naquela época não havia facilidade de transporte, pelo que se faziam grandes caminhadas a pé. Para além disso, a estrada que liga Prábis ao Bandim não era alcatroada, o que fazia com que as pessoas chegassem à cidade empoeiradas, a precisar de tomar banho e trocar de roupa. Quando as mães se aproximavam da lagoa com as crianças para tomar banho, logo aparecia a serpente em forma de vento. Entoava três vezes o som cuk, cuk, cuk, e voava com a criança para dentro daquela plantação de cana-de-açúcar. As mães ficavam a chorar sem recuperar as crianças.
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Através da transformação homem-animal, estes relatos parecem evocar um plano sobrenatural e primitivo, no qual alguns seres humanos (os feiticeiros) descobrem dons e poderes, enquanto outros homens se sentem aterrorizados. Nesse plano primitivo e sobrenatural estará, talvez, a origem do mal, do poder, do medo, da inveja e da vingança humanas, que se mostram como algo instintivo e incontrolável. Pelo receio de estarem a evocar esse plano, as testemunhas destas histórias não quiseram identificar-se ou deixar-se fotografar, evitando despertar contra si próprios essas maldições. .


Relatos recolhidos por Djamila Vieira, Justino Ampanil, Ocante Yé, Abrão Nanque
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* Do nome da personagem principal deste mito grego surgiu a palavra “licantropia”, que designa a maldição de um homem que se transforma em lobo. Designa também os sintomas psicológicos sentidos por indivíduos que acreditam transformar-se em lobos.

Cidadania

Experiências de reutilização de materiais
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Fotografias: Peças criadas pelos alunos do Liceu Nacional no curso de reutilização de materiais

No dia 10 de Dezembro foi apresentada ao público, no Liceu Nacional, uma exposição de várias peças criadas por alunos a partir de materiais inutilizados. Estes materiais eram constituídos principalmente por peças de computadores avariados e velhos. A ideia foi dada pela professora Carina Rodrigues e logo se iniciou a pesquisa sobre o tema na Internet. Ao mesmo tempo que iam sendo criadas as peças, os alunos tiveram outra componente do curso que foi a criação de uma fotonovela sobre o tema da higiene e limpeza, a qual foi também apresentada na exposição. Para a professora Virgínia Marques, uma das responsáveis pela organização da exposição, “o principal objectivo é que as pessoas sejam sensibilizadas para a necessidade de zelar pela higiene e limpeza dos espaços e também para ideia da reutilização do lixo”. Com o mesmo intuito, foi apresentada a conferência “Os três R’s”, pela professora Cláudia Vieira, referindo-se à Redução, Reciclagem e Reutilização.

Fotografia: Fotonovela "Escola Limpa"

No mesmo dia em que decorreu a exposição, foi apresentada a peça de teatro “Escola Limpa”, pois, na opinião do professor Joaquim Bessa, esta abordagem do tema, feita de um modo divertido através da arte dramática, é a melhor forma de sensibilizar as pessoas para os problemas que surgem do tratamento inadequado do lixo ou da ausência de limpeza. Para quem se questiona sobre como é que o lixo pode ser tema para a arte, este professor responde que “a arte está em tudo, é uma questão de espírito”.

“Por uma Escola Melhor” é o lema de um clube de alunos que se formou no Liceu Dr. Agostinho Neto, ainda no primeiro período. Com a ajuda da professora Isabel Correia, estes alunos recuperaram bancos envelhecidos, carteiras e latas velhas (para caixotes do lixo) e colocaram-nos no recinto escolar. Contaram com a ajuda da direcção da escola, que chamou um carpinteiro e depois iniciaram a pintura dos materiais recuperados, usando restos de tinta.


Fotografias: Alguns elementos do clube "Por uma escola Melhor"


Dauda Pires e Justino Ampanil

O que podemos fazer por um ambiente mais saudável?

* Não sujar os espaços comuns;

* Separar o lixo que pode ser aproveitado (latas, garrafas, chapas, caixas de cartão, entre outros), dando-lhe a utilização e o destino adequados;

* Colocar o lixo bem fechado em sacos, caixas de cartão e outros recipientes e depositá-lo nos locais indicados pela Câmara Municipal;

* Orientar as crianças para não mexerem no lixo, evitando doenças e acidentes;

* Manter as linhas de água sempre limpas. Não depositar o lixo nestes locais, porque as consequências podem ser graves;

* Eliminar as águas paradas e locais de acumulação, para evitar a proliferação de mosquitos;
* Tapar sempre os poços de água, as fontes e fossas sépticas;

* Desinfectar poços e reservatórios de água para consumo humano;

* Lavar bem as mãos com água e sabão antes de cada refeição;

* Lavar com água e lixívia os alimentos, legumes e frutas frescas;

* Participar voluntariamente nas campanhas de limpeza do seu bairro e da sua cidade;

* Ajudar os serviços da Câmara Municipal, cumprindo as suas orientações e facilitando o seu trabalho.

Campanha "Limpa Bissau

Poesia

Pássaro da Paz
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Pássaro azul, leva-me contigo
Pássaro do céu, pássaro do mar
Pássaro da Paz... leva-me agora
Quero aprender a voar e assobiar por cada canto
Quero cantar com a minha própria voz
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Pássaro azul, leva-me contigo
Leva-me para não voltar
Leva-me até ao mar
Quero sentir o cheiro de longe
Quero gritar com a minha própria voz
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Pássaro azul, leva-me contigo
Dá-me asas ou ensina-me a voar
Ensina-me a ir em bando
Quero cobrir o mundo do meu próprio sol
Quero lançar a paz com a minha própria voz
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Pássaro azul, leva-me contigo
A voar em bando de asas
Quero anunciar com a minha própria voz
Quero iluminar o mundo da dor
Quero cantar a paz
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Amadú Dafé
(Aluno do Clube e Atelier de Jornalismo 2006/2007)

Ficha Técnica

Anunciador - Jornal escolar do Liceu Dr. Rui Barcelos da Cunha
2008/2009:
Professora e coordenadora do Clube e Atelier de Jornalismo: Susana Fonseca (Professora do PASEG - Programa de Apoio ao Sistema Educativo da Guiné-Bissau - Cooperação Portuguesa)
Alunos do Atelier de Jornalismo:
Abrão Nanque, Dauda Pires, Djamila Vieira, Domingos Fernandes, João Ernesto Gomes, Justino Ampanail, Justino Ié, Josefa António Bassim, Mário Albino Ié, Midana Lima Sampa, Ocante António Ié, Telésfora Salvador.
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Participações especiais em 2008/2009: Amadú Dafé - ex-aluno do Liceu Dr. Rui Barcelos da Cunha e do Clube e Atelier de Jornalismo; Mário Júlio Benante - director do Liceu Dr. Rui Barcelos da cunha; Cirilo dos Santos - professor de Filosofia
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Colaboração na revisão de textos: professora Ana Sofia Morgado
Fotografia: professora Susana Fonseca
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Professores responsáveis pelas rubricas periódicas:
Cidadania - Escola Limpa: professora Susana Fonseca
Palavras e Expressões: professora Teresa Cardoso
Poesia: professora Ana Sofia Morgado

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Clube e Atelier de Jornalismo

Objectivos:
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Incentivar o uso e a divulgação da língua portuguesa, através do trabalho com textos jornalísticos;
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Criar um espaço comum de informação, análise e problematização;
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Capacitar os alunos para o domínio do Word e Internet;
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Orientar o trabalho de preparação, de pesquisa, de entrevista e de produção de textos;
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Publicar em jornal (blogue e suporte de papel) os trabalhos produzidos;
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Incentivar a participação feminina na vida escolar;
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Desenvolver a autonomia e o espírito crítico dos alunos;
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Desenvolver a capacidade de observação e de expressão dos alunos;
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Promover a responsabilidade individual e a capacidade de trabalho em equipa;
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Sensibilizar para a relação entre a escola e a sociedade;
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Contribuir para o processo de humanização do meio escolar;
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Promover a participação no jornal escolar por parte da restante comunidade escolar (alunos, professores, associação de estudantes);
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Formar para a cidadania;
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Sensibilizar para a necessidade de identificar objectivos, caminhos e meios que permitam um desenvolvimento sustentável, num contexto de paz e de valorização dos direitos humanos.
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