segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Jornalista Fernanda Pinto Cardoso

Jornalista Fernanda Pinto Cardoso
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Fernanda Pinto Cardoso nasceu em Bissau a 26 de Maio de 1964. Licenciou-se em Jornalismo Internacional em Moscovo e estagiou no CENJOR (Centro de Formação para Jornalistas) em Lisboa. É um dos rostos da Televisão da Guiné-Bissau (TGB), que dá a conhecer aos guineenses as principais notícias nacionais e internacionais da actualidade.

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A: Considera que na Guiné-Bissau existe igualdade entre homens e mulheres?
FC: A mulher guineense tem um grande caminho a percorrer para acabar com a desigualdade de género. A nível político, por exemplo, em termos de lugares de decisão há várias situações que podemos apresentar como deficitárias no que respeita à representatividade feminina, como o caso da Assembleia Popular. Também ao nível da formação do governo, em cerca de 20 ministérios geralmente contamos com 5 mulheres, o que deixa claro o desequilíbrio entre a representatividade feminina e masculina.
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A: Porque é que, na sua opinião, não há mais mulheres a desempenhar cargos de decisão?
FC: Os cargos políticos são definidos politicamente. Na minha opinião são os próprios partidos políticos que não estão a dar importância às mulheres, pois não incluem essa questão nos seus estatutos. Outro problema relevante são as lacunas ao nível da escolarização das mulheres. Há uma grande percentagem de analfabetismo feminino na Guiné-Bissau. Este factor impede a igualdade de circunstâncias entre homens e mulheres.
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A: Que motivos podem ser apontados para o facto de as raparigas desistirem mais facilmente dos estudos que os rapazes?
FC: As raparigas desistem mais facilmente dos estudos do que os rapazes. Isto está relacionado com várias questões, como a zona de residência, a etnia ou a religião das famílias. A Guiné é um país rico em termos de diversidade étnica, cultural e religiosa. Cada etnia tem as suas regras e há etnias que dão preferência aos rapazes. A própria localização da escola fica muitas vezes longe da tabanca, pelo que os pais se inibem de deixarem as filhas frequentar a escola. Por outro lado, em termos de lides domésticas, é tradição as raparigas ocuparem-se destas funções. Mas tem-se feito um trabalho de sensibilização junto dos pais e tem-se visto a questão das acessibilidades para a escola. Em termos de parcerias internacionais, o papel do Programa Alimentar Mundial, por exemplo, também tem sido importante, nomeadamente com o incentivo das cantinas escolares, tanto para as raparigas como para os rapazes e até aos pais. O objectivo é diminuir o abandono escolar.
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A: Existem mulheres de referência na Guiné-Bissau e em África?
FC: Apesar do analfabetismo feminino generalizado, também temos casos de mulheres líderes na Guiné-Bissau, que deram provas de grande capacidade. Cármen Pereira foi presidente da Assembleia Nacional Popular, Filomena Tipot foi Ministra das Forças Armadas, ambos lugares tradicionalmente desempenhados por homens. Ao nível de África, podemos também referenciar a Presidente da República da Libéria, que é mulher. Fora da Política, em termos empresariais, na saúde e ensino, também há outras mulheres podem fazer algo pelo país se tiverem oportunidade.
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A: O que é que pode ser feito para aumentar a representatividade feminina em cargos de decisão?
FC: Primeiramente é preciso que os partidos mudem os seus estatutos internos, de forma a privilegiar a igualdade e equidade no seio do partido. A Plataforma Política da Mulher tem vindo a reivindicar esta mudança. Esta plataforma é um grupo criado por mulheres parlamentares da CPLP, da UEMOA, da própria sociedade civil e dos partidos políticos, com o objectivo de fazer pressão junto dos próprios partidos políticos e de promover a mulher em diversas áreas. Por exemplo, durante o período eleitoral a Plataforma tentou exigir a obrigatoriedade de uma quota de 40% de mulheres nas listas de candidatos a líderes da nação. Infelizmente nãotivemos o resultado que queríamos, mas a Plataforma não se desencoraja perante estas dificuldades, porque ainda há um longo caminho a percorrer. Tentamos fazer lobby para a inclusão de mais mulheres nos cargos de decisão.
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A: Como se sente quando uma mulher é chamada a desempenhar um cargo?
FC: É um orgulho quando uma mulher é chamada a desempenhar um cargo político, sobretudo quando estamos perante uma mulher à altura do cargo. Porque também é bom dar o cargo a quem o merece. Não se trata só de dar oportunidades às mulheres, mas sim de dar oportunidades às mulheres que as merecem.
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A: Na comunicação social é posta em prática a igualdade entre homens e mulheres?
FC: Na TGB, por exemplo, somos poucas mulheres, embora tentemos criar espaços para dar voz e incluir as mulheres. Mas realmente não existe um grupo de género dentro da comunicação social. Há um trabalho a fazer nesse sentido, até porque a maioria dos jornalistas guineenses são homens. Isto nota-se ao nível dos altos cargos da comunicação social e também até no próprio tipo de reportagens publicadas.
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A: Existe algum apelo que seja importante fazer passar relativamente a este tema?
FC: Existe um documento internacional, ratificado pela Guiné-Bissau, que é a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, o qual diz tudo sobre os direitos da mulher. É preciso pôr esse documento em prática, aplicar esta convenção. Neste momento, faço um apelo ao Estado da Guiné-Bissau para fazer aplicar esse documento. Quando isso acontecer, quando esse documento for posto em prática, então os direitos das mulheres serão respeitados.
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Telésfora Salvador, Midana Sampa, Josefa Bassim, Ocante Ié

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