quarta-feira, 24 de junho de 2009

As "engenharias do desenrasque" no ensino

Desde os anos 90 que o sector do ensino da Guiné-Bissau se tem vindo a deteriorar. Lamentavelmente, a partir do ano de 1994, depois das primeiras eleições multipartidárias, o país vem conhecendo “engenharias de desenrasque” em termos de funcionamento das aulas. Devido ao aumento de matrículas nas escolas e na tentativa de evitar que alguns alunos ficassem de fora, aumentaram os turnos lectivos de 3 para 4 turnos (1º turno – das 7h00 às 11h00; 2º Turno – das 11h00 às 15h00; 3º turno – das 15h30 às 19h30; 4º turno – das 20h00 às 23h30). Aparentemente era a saída possível, mas, como consequência, deu-se uma acentuada falta de professores para cobrir todos os turnos. Como alternativa, os alunos finalistas (11ª classe) foram adoptados como professores, juntamente com os alunos que acabavam a formação na Escola Superior de Formação de Professores “Tchico Té”. Esta medida de recorrer aos alunos finalistas para ensinar tornou o ensino pedagogicamente frágil, fenómeno agravado pela falta ou inoperância da inspecção do Ministério para com a educação, para com a escola e para com os professores nas salas de aulas.
O conflito militar de 7 de Junho de 1998, para além de ter danificado muitas infra-estruturas escolares, veio aumentar a debilidade do sistema de ensino. Esta debilidade foi agravada pela falta de pagamento de salários, havendo inclusive um ano lectivo anulado, em 2001/2002.
No ano lectivo 2006/2007, por ocasião da queda do governo constitucional, os professores foram afectados pelo aumento de carga horária, às ordens do Ministério da Educação Nacional e Ensino Superior e com apoio sindical. A medida seria, alegadamente, para poder afastar os professores que trabalhavam em regime de contratação. Mas, na verdade, esta situação veio complicar a saúde dos professores, que esforçam a voz durante muitas horas em salas sem portas nem janelas, inapropriadas portanto para optimizar o som e a atenção dos alunos. Para além disto, muitos professores tiveram que preencher horários de dois turnos para satisfazerem a carga horária exigida, facto que teve consequências negativas também ao nível do tempo disponível para preparação das aulas e avaliação.
Já este ano lectivo, em 2008/2009, para além de as aulas terem tido início com 3 meses de atraso, a partir das festas do Carnaval temos assistido a paralisações constantes, devido aos casos de 1 e 2 de Março (as mortes do Chefe Maior General das Forças Armadas, Tagmé Na Waié, e do Presidente, “Nino” Vieira). Para além destes casos, assistimos, mais recentemente, às paralisações promovidas pelos professores dos quatros maiores liceus do país, devido à falta de pagamento dos salários. Agora pergunto: será que o governo não deveria ter a coragem de dar como nulo este ano lectivo? Qual é a “engenharia” a que vão recorrer desta vez para salvar o ano?
Parece-me que devemos ter a coragem de parar para pensarmos no que é que queremos para a educação dos nossos jovens e em especial para o sector do ensino.

Por: Cirilo dos Santos (professor de Filosofia)

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