Opinião de Eugénio N'luta, sociólogo e professor no Liceu Dr. Rui B. Cunha, no Liceu João XXIII e na Universidade Amílcar cabral
Considero que as principais causas dos comportamentos desviantes e delinquentes, actualmente em aumento na Guiné-Bissau, não estão directamente ligados com a pobreza, mas sim com o desenvolvimento de uma cultura de violência, por um lado, e a desorganização das famílias, por outro.
Notemos que o país conheceu dois conflitos sangrentos na sua história recente (a luta pela independência e, mais recentemente, a guerra civil), os quais geraram a tipificação de uma cultura de violência e prepotência. Nas ruas, nos bairros e nas próprias famílias, é frequente assistirmos a cenas de conflito, de vingança, de troca de insultos, assistidas por multidões que nem sempre estão preocupadas em apaziguar os conflitos, mas ainda incitam a uma maior violência. Nestes contextos, torna-se fundamental sair vencedor, por questões de honra, facto que só perpetua os esquemas de violência, estimulados pelos comentários provocadores dos vizinhos.
A desestruturação familiar é outro problema, relacionado com a migração das populações para a capital, sem atender à particularidade do meio e muito menos às necessidades cada vez maiores de modernização, democratização e globalização, sustentadas pelo princípio da liberdade individual. É de salientar que as classes dirigentes têm que saber mobilizar as suas influências políticas e económicas no sentido do país poder enfrentar estes desafios.
A partir do período pós-independência, surgiram espontaneamente, entre o modelo de família rural e moderno, diferentes tipos de famílias, que geram hoje grandes preocupações. Sem estruturas sólidas dos seus processos de socialização, e influenciados pela imitação de subculturas e contraculturas, acabam por gerar nos jovens crises de identidade, de nacionalidade, de consciência e de confiança. Refira-se por exemplo, o alargamento da poligamia aos meios urbanos. Nos meios urbanos, as casas não têm a dimensão das moransas do interior, resultando daí a divisão familiar, ao invés da coabitação. O fenómeno da poligamia urbana traduz-se no facto de um homem ter várias mulheres e, consequentemente, ter várias casas: uma mulher em cada casa e em bairros diferentes, e cada uma com os seus filhos. Mesmo que assuma as despesas inerentes a cada uma das suas "casas", o pai é um elemento ausente. A mãe, por sua vez, também tem que sair de casa para ganhar algum sustento. A poligamia urbana gera famílias monoparentais, fenómeno que, em si, não é algo de extraordinário; o problema é que os filhos ficam por conta própria, dada a ausência de estruturas educativas que os integrem: os pais estão ausentes, não há creches e a escola atravessa longos períodos de greve.
A desorganização das famílias nos centros urbanos, particularmente em Bissau, criou graves problemas sociais que afectaram todo o sistema de relacionamentos interpessoais e institucionais, acompanhados pelo crescimento caótico da capital, que enfrenta o forte fenómeno de imigração e do desemprego dos jovens. Os seus habitantes, cada vez mais confrontados com a miséria, são constrangidos a enveredar, individualmente ou em grupo, por alternativas ilegais, de forma a atingir objectivos pessoais ou de grupo. Assim, em vez de uma harmoniosa convivência social entre grupos heterogéneos, assistimos ao choque de culturas e subculturas, potenciados pelas rivalidades criadas.
Notemos que o país conheceu dois conflitos sangrentos na sua história recente (a luta pela independência e, mais recentemente, a guerra civil), os quais geraram a tipificação de uma cultura de violência e prepotência. Nas ruas, nos bairros e nas próprias famílias, é frequente assistirmos a cenas de conflito, de vingança, de troca de insultos, assistidas por multidões que nem sempre estão preocupadas em apaziguar os conflitos, mas ainda incitam a uma maior violência. Nestes contextos, torna-se fundamental sair vencedor, por questões de honra, facto que só perpetua os esquemas de violência, estimulados pelos comentários provocadores dos vizinhos.
A desestruturação familiar é outro problema, relacionado com a migração das populações para a capital, sem atender à particularidade do meio e muito menos às necessidades cada vez maiores de modernização, democratização e globalização, sustentadas pelo princípio da liberdade individual. É de salientar que as classes dirigentes têm que saber mobilizar as suas influências políticas e económicas no sentido do país poder enfrentar estes desafios.
A partir do período pós-independência, surgiram espontaneamente, entre o modelo de família rural e moderno, diferentes tipos de famílias, que geram hoje grandes preocupações. Sem estruturas sólidas dos seus processos de socialização, e influenciados pela imitação de subculturas e contraculturas, acabam por gerar nos jovens crises de identidade, de nacionalidade, de consciência e de confiança. Refira-se por exemplo, o alargamento da poligamia aos meios urbanos. Nos meios urbanos, as casas não têm a dimensão das moransas do interior, resultando daí a divisão familiar, ao invés da coabitação. O fenómeno da poligamia urbana traduz-se no facto de um homem ter várias mulheres e, consequentemente, ter várias casas: uma mulher em cada casa e em bairros diferentes, e cada uma com os seus filhos. Mesmo que assuma as despesas inerentes a cada uma das suas "casas", o pai é um elemento ausente. A mãe, por sua vez, também tem que sair de casa para ganhar algum sustento. A poligamia urbana gera famílias monoparentais, fenómeno que, em si, não é algo de extraordinário; o problema é que os filhos ficam por conta própria, dada a ausência de estruturas educativas que os integrem: os pais estão ausentes, não há creches e a escola atravessa longos períodos de greve.
A desorganização das famílias nos centros urbanos, particularmente em Bissau, criou graves problemas sociais que afectaram todo o sistema de relacionamentos interpessoais e institucionais, acompanhados pelo crescimento caótico da capital, que enfrenta o forte fenómeno de imigração e do desemprego dos jovens. Os seus habitantes, cada vez mais confrontados com a miséria, são constrangidos a enveredar, individualmente ou em grupo, por alternativas ilegais, de forma a atingir objectivos pessoais ou de grupo. Assim, em vez de uma harmoniosa convivência social entre grupos heterogéneos, assistimos ao choque de culturas e subculturas, potenciados pelas rivalidades criadas.
Professor Eugénio N’Luta
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