quarta-feira, 24 de junho de 2009

Porque é que a política também é para nós?

A política está ligada à liberdade e as duas estão associadas à capacidade do homem agir em público, que é o local original da política. A política é um esforço” para fazer reinar a ordem e a justiça, assegurando o poder, o interesse geral e o bem comum contra a pressão das reivindicações particulares. É também um meio de realizar a integração de todos os indivíduos na comunidade, de forma a obter a “cidade justa” a que aspiraram muitos pensadores. Para Aristóteles, por exemplo, a tarefa e o objectivo da política é a garantia da vida no sentido mais amplo, ou seja, está directamente relacionada com a busca da felicidade.
Se considerarmos a política como integração numa sociedade, a acção política está presente em todos os momentos da nossa vida, num âmbito mais ou menos privado ou mais ou menos público, quando nos relacionamos em família, com as pessoas do bairro ou da escola… somos parte integrante da “Cidade”. Enquanto cidadãos, pertencemos a um Estado e temos que fazer escolhas: podemos deitar lixo nas ruas ou não; podemos participar na associação do nosso bairro ou não; podemos trabalhar como voluntários por uma causa que acreditamos ou não; podemos até votar num político ou não vota, pois a própria abstenção é uma tomada de posição, que influencia em tudo o que acontece à nossa volta. Mas, se quisermos ter uma posição mais activa e responsável, que dê real significado à política, devemos, no mínimo, inteirar-nos dos diferentes programas políticos, porque somos nós os eleitores dos que vão chegar ao poder. Seria mau deixar à sorte a escolha do nosso futuro; para além de que o poder que tem por base o povo é o mais forte.
A política que esquece o povo e que consiste apenas em troca de insultos e intrigas, que pretende apenas o poder e o lucro, ou pior, a política que oprime o povo e não considera as suas escolhas não pode ir longe. Não podemos deixar que isto aconteça, temos que assumir que a política também é para nós, jovens e cidadãos comuns, porque está nas nossas mãos procurar o melhor para o nosso país. No futuro poderemos mudar o rumo das coisas, pois se tomarmos “o poder com a força do povo, a força do povo prevalecerá” e afastará a “força da bala”, como refere o cantor e músico guineense Zé Manel. Mas será que todos temos consciência da importância que cada um de nós desempenha?
Numa altura em que a Guiné-Bissau exige de todos uma reflexão sobre a política e sobre o futuro, saímos à rua para saber o que têm a dizer professores, alunos, jovens, enfim, os cidadãos comuns sobre o porquê de a política também ser para nós.

Qual é a importância da política?
Que dificuldades se podem colocar à política?
Considera que o nível de escolaridade da população pode ter influência na política?
Que papel têm os jovens na política?

António Pedro Barreto – professor de Educação Visual:
“A política permite-nos gerir um Estado. Os jovens devem ter um papel político e unir-se com objectivos comuns que ajudem toda a comunidade. Podem, por exemplo, criar associações que lhes permitam agir. As desvantagens da política têm a ver com o facto de existirem diferentes classes sociais. Quem é escolarizado faz melhores escolhas, quem é analfabeto limita-se a entrar na carruagem.”

Anita Brandão da Silva – professora de Inglês:
“A política é importante porque permite mudar muita coisa, particularmente num sistema democrático que dê a toda a gente a oportunidade de se expressar livremente. Por vezes, os políticos decidem fazer uma política sem bases e isso frequentemente traz complicações para a sociedade.
Os jovens são mais instruídos, pelo que devem contribuir para uma educação cívica da comunidade, ajudando as populações a compreenderem os programas apresentados pelos políticos.”

Aladje Dembo Jaquité – estudante do o 4º ano de Direito:
“É por meio da política que gerimos a coisa pública, que desenhamos tipos de desenvolvimento e que estabelecemos boas relações externas com os demais países do mundo. Mas, quando se fala de política no contexto guineense, a política está banalizada, porque é feita por pessoas que muitas vezes não conhecem a sua finalidade. Para além de que os militares têm uma intervenção no contexto político que gera convulsões. Por outro lado, a Guiné-Bissau tem condições adversas à afirmação política dos intelectuais. Nas campanhas pré-eleitorais, o povo dá atenção a questões que não estão relacionadas com a política, mas com a vida pessoal e social dos candidatos.
O papel dos jovens na política não é aquele que deveria ser, devido ao desconhecimento da História do nosso país e, por outro lado, ao frágil funcionamento das instituições do Estado. Os jovens vão atrás daquilo que ouvem dos políticos, sem procurarem ter uma opinião formada sobre vários aspectos da vida política, sendo que, depois das eleições, são os primeiros a terem as expectativas frustradas. Também não é garantido que a ascensão dos jovens na política, mesmo com elevada formação, possa mudar o cenário político do nosso país, até porque nada indica que as novas gerações sejam menos corruptas do que as anteriores. Ser escolarizado não significa ser bem formado. É preciso apostar na escolarização, mas sobretudo na educação cívica.”


Djenabu Seide – estudante da 8ª classe :
“Para mim, a política consiste na discussão de ideias que levam ao desenvolvimento de um país. No entanto, na Guiné, a política traz muitos problemas. Quem se levanta para reivindicar os seus direitos morre.
Acho que saber ler e escrever contribui para o desenvolvimento da sociedade. Mas penso que um jovem não se deve meter na política, porque, na Guiné, a política é muito difícil.”

Djibril Candé – professor de Biologia:
“A política deve facilitar a vida das pessoas, nomeadamente no desempenho das suas funções. Mas, na Guiné, as pessoas não compreendem o que é a política. É por isso que quem entra na política dizendo a verdade acaba por se dar mal.
Os jovens devem intervir conscientemente na manutenção da paz e reconciliação do país. Claro que o nível de escolaridade das pessoas influencia muito as suas escolhas, se analisarmos o facto de quase trinta por cento dos votos serem nulos, percebemos que isso acontece porque as pessoas não sabem ler.”


João da Silva Cá – professor de Matemática :
“A política, na antiga Grécia, tinha como objectivo original organizar e construir um país em prol do desenvolvimento do povo. Neste contexto tem grande importância.
Infelizmente, na Guiné-Bissau, os sistemas políticos que temos tido nestes últimos séculos não são sistemas políticos propriamente ditos. Actualmente, vemos muitos altos cargos do Estado a serem ocupados por analfabetos, enquanto os intelectuais que estudaram ficam de fora. Esta é uma realidade absurda, se tivermos em conta que o objectivo é desenvolver e organizar um Estado. O maior problema que se verifica na Guiné é o elevado nível de pobreza, de modo que parece não existir consciência nas pessoas. Com tão grandes dificuldades na vida é muito fácil uma pessoa ser manipulada, de forma injusta. A camada juvenil tem um papel muito importante a desempenhar na política, no sentido de mudar a mentalidade dos governantes, de alertar para os seus direitos, de construir e desenvolver o país em prol do bem-estar comum.”

Gueri Gomes Lopes – estudante no 3º Ano de Administração:
“Creio que a política tem grande importância para um país e para a sociedade em geral, na medida que só através dela podemos desenvolver esse mesmo país ou sociedade. Se não for entendida a razão da sua existência, a política traz sempre confusão entre os grupos activamente implicados, acabando por prejudicar quem deveria beneficiar dela.
Os jovens devem ter um papel relevante, na medida que devem sensibilizar a família e a comunidade para que não façam as suas escolhas por engano.
O nível da escolaridade influencia muito as escolhas da população, na medida em que permite avaliar um projecto de um determinado político. Quando as pessoas têm baixos índices de escolaridade, muitas vezes baseiam as suas escolhas em critérios de etnia, parentesco ou amizade.”

Texto de: Dauda Pires
Entrevistas feitas por: Josefa Bassim, Midana Sampa, Justino Ampanail,
Ocante António Ié, Telesfora Salvador, Justino Yé e Abrão Nanque

2 comentários:

Anónimo disse...

Gosto da opinião de Djibril Candé, porque falou das escolas e das eleições. porque se vimos aqui em G.Bissau muitas pessoas são analfabetos. Imagine um individuo analfabeto não sabe onde é que ele vai votar ou então como é que ele vai votar, e acaba por votar muito mal sem escolher um bom representante dele no estado.
Djamila vieira

Anónimo disse...

Bem,o comentáio sobre a cónica de Duda Piris é uma coisa que me impressionou muito, pois no meu ponto vista a forma como ele explicou a própria razão política e eu estou plenamente de acordo com a sua definição.
justino ampanail