Editorial
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Hesito em referir que chegámos ao final de mais um ano lectivo, embora este seja precisamente o último jornal de 2008/2009. O jornal Anunciador teve em Fevereiro a primeira edição deste ano, resultante de um trabalho começado em Outubro. Foi uma edição dedicada à mulher guineense, que deu especial atenção à relação do tema com a educação e a escola. No final de Abril fizemos uma nova edição, com a participação da direcção do liceu, factor que muito nos agradou, pois um dos objectivos traçados para este ano era envolver mais elementos da comunidade escolar. A edição de Abril foi uma edição especial, dedicada ao IV aniversário do nosso liceu. Para a última edição, de Junho, reservámos o tema “Porque é que a política também é para nós?”, indo ao encontro do concurso de jornais escolares promovido pelo jornal português Público.
Hesito em referir que chegámos ao final de mais um ano lectivo, embora este seja precisamente o último jornal de 2008/2009. O jornal Anunciador teve em Fevereiro a primeira edição deste ano, resultante de um trabalho começado em Outubro. Foi uma edição dedicada à mulher guineense, que deu especial atenção à relação do tema com a educação e a escola. No final de Abril fizemos uma nova edição, com a participação da direcção do liceu, factor que muito nos agradou, pois um dos objectivos traçados para este ano era envolver mais elementos da comunidade escolar. A edição de Abril foi uma edição especial, dedicada ao IV aniversário do nosso liceu. Para a última edição, de Junho, reservámos o tema “Porque é que a política também é para nós?”, indo ao encontro do concurso de jornais escolares promovido pelo jornal português Público.
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Embora a questão a concurso – “Porque é que a política também é para nós?” – já tivesse sido abordada de forma implícita nas edições anteriores, nesta os alunos do Clube e Atelier de Jornalismo empenharam-se mais objectivamente no seu tratamento. Contudo, permitam-me que diga que esta tem sido, no nosso contexto, uma “questão do diabo”. Não é função do jornalismo reflectir e informar sobre o meio envolvente? Mas que trabalhos de jornalismo escolar podem ser feitos, alusivos ao tema em causa, num contexto em que o Presidente da República, o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas e alguns ex-ministros foram contínua e brutalmente assassinados e outros espancados, na pequena cidade em que todos vivemos, trabalhamos e estudamos? E que trabalhos de jornalismo escolar podem ser feitos num contexto em que o ano lectivo tem sido submetido a prolongadas greves e boicotes, devido a repetidos atrasos no pagamento de salários, inviabilizando a vida normal de qualquer estudante? Que tipo de reportagens e de entrevistas podem ser feitas?
Embora a questão a concurso – “Porque é que a política também é para nós?” – já tivesse sido abordada de forma implícita nas edições anteriores, nesta os alunos do Clube e Atelier de Jornalismo empenharam-se mais objectivamente no seu tratamento. Contudo, permitam-me que diga que esta tem sido, no nosso contexto, uma “questão do diabo”. Não é função do jornalismo reflectir e informar sobre o meio envolvente? Mas que trabalhos de jornalismo escolar podem ser feitos, alusivos ao tema em causa, num contexto em que o Presidente da República, o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas e alguns ex-ministros foram contínua e brutalmente assassinados e outros espancados, na pequena cidade em que todos vivemos, trabalhamos e estudamos? E que trabalhos de jornalismo escolar podem ser feitos num contexto em que o ano lectivo tem sido submetido a prolongadas greves e boicotes, devido a repetidos atrasos no pagamento de salários, inviabilizando a vida normal de qualquer estudante? Que tipo de reportagens e de entrevistas podem ser feitas?
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Quando abordámos a comunidade escolar, poucos quiseram falar, mas uma das alunas que entrevistámos não hesitou em dizer-nos: “quem se levanta para reivindicar os seus direitos, morre”. Talvez sejam “mitos” ou talvez seja apenas o espelho de uma baixa auto-estima popular. Talvez… A incerteza explode em cada palavra que ouço e leio destes alunos, na mesma medida em que a esperança e a fé. Todavia, para alguns a necessidade de se questionarem e de se expressarem fala mais alto: o que significa tudo isto que se passa à nossa volta? Apontam caminhos, lançam ideias, criticam a amoralidade dos actos bárbaros a que assistem e sabem que não é isso que querem para si e para os seus filhos. E falo em filhos sem pudor, que na Guiné-Bissau ter filhos, mesmo na adolescência, é algo tão natural como namorar. Mas deixo esta última problemática para uma próxima edição...
Quando abordámos a comunidade escolar, poucos quiseram falar, mas uma das alunas que entrevistámos não hesitou em dizer-nos: “quem se levanta para reivindicar os seus direitos, morre”. Talvez sejam “mitos” ou talvez seja apenas o espelho de uma baixa auto-estima popular. Talvez… A incerteza explode em cada palavra que ouço e leio destes alunos, na mesma medida em que a esperança e a fé. Todavia, para alguns a necessidade de se questionarem e de se expressarem fala mais alto: o que significa tudo isto que se passa à nossa volta? Apontam caminhos, lançam ideias, criticam a amoralidade dos actos bárbaros a que assistem e sabem que não é isso que querem para si e para os seus filhos. E falo em filhos sem pudor, que na Guiné-Bissau ter filhos, mesmo na adolescência, é algo tão natural como namorar. Mas deixo esta última problemática para uma próxima edição...
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No início deste mês de Junho, professores e alunos voltaram à escola. Porém, hoje, enquanto procuro as palavras para este editorial, chove torrencialmente e talvez continue a ser uma incerteza que o ano lectivo tenha continuidade nos quatro maiores liceus de Bissau. Talvez… É por esta incerteza que hesito em dizer que chegámos ao final de um ano lectivo que, afinal, pode não ser consumado.
.No início deste mês de Junho, professores e alunos voltaram à escola. Porém, hoje, enquanto procuro as palavras para este editorial, chove torrencialmente e talvez continue a ser uma incerteza que o ano lectivo tenha continuidade nos quatro maiores liceus de Bissau. Talvez… É por esta incerteza que hesito em dizer que chegámos ao final de um ano lectivo que, afinal, pode não ser consumado.
Susana Fonseca
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