quarta-feira, 24 de junho de 2009

Anunciador participa em concurso de jornais escolares

Editorial
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Hesito em referir que chegámos ao final de mais um ano lectivo, embora este seja precisamente o último jornal de 2008/2009. O jornal Anunciador teve em Fevereiro a primeira edição deste ano, resultante de um trabalho começado em Outubro. Foi uma edição dedicada à mulher guineense, que deu especial atenção à relação do tema com a educação e a escola. No final de Abril fizemos uma nova edição, com a participação da direcção do liceu, factor que muito nos agradou, pois um dos objectivos traçados para este ano era envolver mais elementos da comunidade escolar. A edição de Abril foi uma edição especial, dedicada ao IV aniversário do nosso liceu. Para a última edição, de Junho, reservámos o tema “Porque é que a política também é para nós?”, indo ao encontro do concurso de jornais escolares promovido pelo jornal português Público.
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Embora a questão a concurso – “Porque é que a política também é para nós?” – já tivesse sido abordada de forma implícita nas edições anteriores, nesta os alunos do Clube e Atelier de Jornalismo empenharam-se mais objectivamente no seu tratamento. Contudo, permitam-me que diga que esta tem sido, no nosso contexto, uma “questão do diabo”. Não é função do jornalismo reflectir e informar sobre o meio envolvente? Mas que trabalhos de jornalismo escolar podem ser feitos, alusivos ao tema em causa, num contexto em que o Presidente da República, o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas e alguns ex-ministros foram contínua e brutalmente assassinados e outros espancados, na pequena cidade em que todos vivemos, trabalhamos e estudamos? E que trabalhos de jornalismo escolar podem ser feitos num contexto em que o ano lectivo tem sido submetido a prolongadas greves e boicotes, devido a repetidos atrasos no pagamento de salários, inviabilizando a vida normal de qualquer estudante? Que tipo de reportagens e de entrevistas podem ser feitas?
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Quando abordámos a comunidade escolar, poucos quiseram falar, mas uma das alunas que entrevistámos não hesitou em dizer-nos: “quem se levanta para reivindicar os seus direitos, morre”. Talvez sejam “mitos” ou talvez seja apenas o espelho de uma baixa auto-estima popular. Talvez… A incerteza explode em cada palavra que ouço e leio destes alunos, na mesma medida em que a esperança e a fé. Todavia, para alguns a necessidade de se questionarem e de se expressarem fala mais alto: o que significa tudo isto que se passa à nossa volta? Apontam caminhos, lançam ideias, criticam a amoralidade dos actos bárbaros a que assistem e sabem que não é isso que querem para si e para os seus filhos. E falo em filhos sem pudor, que na Guiné-Bissau ter filhos, mesmo na adolescência, é algo tão natural como namorar. Mas deixo esta última problemática para uma próxima edição...
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No início deste mês de Junho, professores e alunos voltaram à escola. Porém, hoje, enquanto procuro as palavras para este editorial, chove torrencialmente e talvez continue a ser uma incerteza que o ano lectivo tenha continuidade nos quatro maiores liceus de Bissau. Talvez… É por esta incerteza que hesito em dizer que chegámos ao final de um ano lectivo que, afinal, pode não ser consumado.
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Susana Fonseca

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