terça-feira, 28 de abril de 2009

Biografia do Patrono do Liceu - Dr. Rui Barcelos da Cunha


Nasceu em Bissau, a 17 de Março de 1947, de um pai funcionário na administração penitenciária e de uma mãe dona de casa. Foi confiado, a partir dos 3 anos, a um tio, irmão mais velho da mãe, gerente de comércio em Bafatá, leste do país. Ao serviço da CFAO (Companhia Francesa da África Ocidental), o tio foi transferido, em 1952, para Kolda, no sul do Senegal, ainda sob dominação colonial. Enquanto o tio procurava uma residência, regressou ao domicílio dos pais. Um ano depois, levado pela mãe, voltava a juntar-se ao tio, o Sr. Domingos de Pina Araújo.

Em Kolda, vila maioritariamente muçulmana e de língua oficial francesa, sentia-se ele e a família um pouco à margem da sociedade civil. O seu tio, nacionalista e cristão, foi obrigado a aproximar-se da pequena comunidade cristã católica local, factor que viria a marcar a vida de Rui Barcelos da Cunha. Tomava parte nos jogos, nas vadiagens e nas saídas para a pesca com os filhos daquela elite cristã.

O primeiro contacto de Rui Cunha com a escola efectuou-se em 1955, na escola pública de Kolda, integrando-se então no mundo francófono. O final da sua escolaridade primária coincidiu com a independência do Senegal da Federação do Mali.

As circunstâncias da infância de Rui Cunha, afastaram-no da resistência popular que nasceu na Guiné-Bissau, ora longínqua ora tão próxima. As manifestações de consciência nacionalista do seu povo não lhe foram reveladas senão pelo êxodo dos militantes do PAIGC.

Como em 1961 não existia nenhum estabelecimento de ensino secundário em Kolda, o seu tio viu-se obrigado a matriculá-lo em Ziguinchor (sede da então região de Casamance) no colégio Sacré-Coeur, estabelecimento de ensino privado, então administrado por irmãos canadianos. Em Ziguinchor foi acolhido por uma prima ali casada. No prosseguimento dos seus estudos secundários, participava nas actividades da comunidade católica da cidade, praticava desporto e tocava os tamborins na fanfarra da sua escola.

Em 1964, depois da 9ª classe, deixa Ziguinchor e parte para Dakar, capital do Senegal, país que entretanto se tornou uma República, em consequência do fim da Federação do Mali.

Frequentou os colégios de St. Michel e Ste. Marie de Hann, ambos estabelecimentos do ensino privado. Os custos do ensino privado eram suportados pelo tio, que começou, a dada altura, a entrar em dificuldades financeiras. Rui Cunha, sem conhecimento do tio, concorreu para a admissão no ensino público. Foi admitido no liceu de Blai Diagne, onde entrou para o 12º ano, concluindo aí o ensino secundário na área de Ciências Experimentais, em 1967.

Em 1968 ingressou no ensino superior, na Faculdade de Ciências da Universidade de Dakar, no departamento de Química-Biologia-Geologia.

Nesta altura, os ecos longínquos da libertação nacional chegavam até ele. Mas, devido às influências do seu ambiente próximo, assim como das suas convicções humanistas, manifestou-se contra esse acto violento, embora justo. Não obstante, o seu sentimento patriótico contrabalançava os seus valores morais declarados, rejeitando a nacionalidade portuguesa que para ele não traduzia a sua identidade cultural. A agencia HCR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados) de Dakar reconheceu-lhe a qualidade de refugiado político e, consequentemente, beneficiou-o com uma bolsa de estudos atribuída pelo FIEU (Fundo Internacional de Intercâmbios Universitários). Este apoio financeiro permitiu-lhe concluir a licenciatura, em 1971, pela Universidade de Dakar.

A sua passagem pela Universidade terá contribuído para a transformação das suas referências ideológicas. A sua participação no movimento estudantil, pela adesão à União dos Estudantes de Dakar, permitiu-lhe a familiarização com a análise marxista, na altura muito prestigiada.

Em abono das excelentes classificações obtidas na licenciatura, o FIEU permitiu-lhe prosseguir os estudos em França, onde fez o Mestrado em Ciências Naturais na Universidade de Ciências e Técnicas de Languedoc.

Em 1974, frequentou o 3º ciclo de estudos superiores na Universidade de Bordeaux, onde terminou, em 1977, o Doutoramento na especialidade de Ciências Biológicas.

Foi chamado novamente ao Senegal, onde trabalhou como assistente na Faculdade de Ciências, com um contrato de três anos. Em 1981, renovou o contrato por mais três anos, do qual rescindiu ao final de um ano, por motivos familiares, partindo para França com a esposa, de nacionalidade francesa, e a filha de dois anos.

Em 1982, devido ao falecimento da mãe, regressou às origens. Em Bissau, escolheu servir o país na área da educação, concebendo programas de Biologia e de Ciências Naturais para o curso geral e complementar do sistema de ensino e de formação de professores, no Ministério da Educação Nacional. No início sentiu algumas dificuldades de adaptação, especialmente devido à língua, embora fossem superadas de forma surpreendente.

De 1982 a 1984 esteve ligado à composição de programas de ensino, ao mesmo tempo que tomava parte de uma activa série de estudos e reflexões sobre o ensino na Guiné-Bissau. Surgiu a necessidade de criar um instituto pedagógico para as questões do ensino, tendo Rui Barcelos da Cunha, em 1984, feito parte da comissão instaladora do actual INDE – Instituo Nacional para o Desenvolvimento da Educação, que viria a nascer em Novembro de 1985 e para o qual foi indigitado para o cargo de Director Geral.

Em 1993-94, foi chamado a dirigir o departamento de formação da Comissão Nacional de Eleições, onde a sua experiência valeu grandemente à materialização das primeiras eleições multipartidárias da Guiné-Bissau.

Enquanto profissional, demonstrou, junto dos que tiveram a sorte de com ele privar, a árdua tarefa de pensar a educação com sentido de humanismo, rigor científico, empenho, dedicação e sentido de responsabilidade.

O antigo Director Geral do INDE viria a falecer em Dakar, vítima de uma doença súbita, no dia 04 de Abril de 1997. Em 2005 transformou-se no patrono de um novo liceu que nasceu em Bissau.
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Biografia cedida pela
Direcção do Liceu Dr. Rui Barcelos da Cunha

2 comentários:

Unknown disse...

Falta o contacto telefónico muitas pessoas podem precisar de isso para saber andamento dos seus filho que estão em África a estudar nesse Liceu e não tem como, porque não tem contacto.
Sou eu Ismael da Costa

Daniel Augusto Lopes disse...

Obrigado a todos que fizeram o grande esforço para editar esta genial vida e obra do nosso grade mestre Dr.R B C.
Em particularmente sinto a obrigação de agradecer a todos professores/as desse estabelecimento do ensino, por conhecimento que tenho optido em favor deles/as.