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No dia 30 de Janeiro, data da morte da combatente Titina Silá, comemora-se o Dia Nacional da Mulher Guineense. Está é uma data que pode servir para pensarmos sobre o papel da mulher na sociedade guineense e para reflectirmos sobre os motivos que estão por trás de algumas situações de desigualdade de género no nosso país. Podemos perguntar, por exemplo, por que motivo há mais raparigas do que rapazes a desistirem da escola? Para respondermos a esta questão, falámos com algumas mulheres que trabalham perto do nosso liceu. No entanto, e para além das experiências pessoais destas mulheres, há outras questões que também devem ser abordadas, pelo que entrevistámos duas mulheres de destaque na defesa dos direitos da mulher guineense: Urcelina Gomes, presidente do Instituto da Mulher e Criança e Fernanda Pinto Cardoso, jornalista*.
Rosa Joaquim tem 39 anos, é vendedora de sandes e doces em frente ao Liceu Dr. Rui B. da Cunha, no qual é também funcionária de limpeza. Concluiu a 4ª classe, mas não pôde prosseguir os estudos porque segundo os homens grandes da tabanca Patchi Iala, onde cresceu, as mulheres que estudavam não poderiam ser boas mulheres, pois não iriam obedecer aos maridos nem dar valor aos trabalhos domésticos e à lavoura. Aos treze anos os pais deram-na em casamento a um tio. Na altura tinha outro namorado, mas desistiu dele e decidiu aceitar o casamento forçado porque não queria ficar sem ninguém nem ser rejeitada pela família.
Aissatu Baldé também é vendedora, tem 25 anos e é a primeira mulher do seu marido. O pai morreu quando era pequena, por isso foi educada pela mãe e pelos tios, que a proibiram de ir à escola. Nunca estudou, apesar de o ter pedido várias vezes. Aos doze anos foi dada em casamento. Na altura vivia em Mansoa e conseguiu refugiar-se em casa de uma tia, em Gabú, durante um ano. Os tios foram buscá-la com treze anos, fizeram-lhe a djanfa e levaram-na ao muro (feiticeiro), que conseguiu convencê-la a casar. Tem dois filhos e quer que eles estudem sem problemas e que aprendam muitas coisas.
Filomena Moreira tem 34 anos e é professora no Liceu Rui Cunha. Formou-se em História e Geografia, mas é com alguma tristeza que lembra o ano em que teve que suspender os estudos, na 9ªclasse, com 17 anos, porque ficou grávida. Não era permitido a uma menina grávida frequentar a escola durante o dia, só à noite. Apesar disso, Filomena não considera que factores religiosos ou culturais, como a sua etnia, tenham definido o seu percurso de vida, mas sim a sua força de vontade.
Augusta Té é funcionária num liceu de Bissau, tem 40 anos e nunca foi à escola. Os pais não a autorizaram a ir à escola e reservaram-lhe um casamento tradicional, com um homem 30 anos mais velho do que ela. Resignou-se à sua sorte e teve sete filhos, um dos quais já faleceu. Entretanto o marido morreu e voltou a casar com outro homem, desta vez à sua escolha.
Dauda Pires, Telésfora Salvador, Midana Sampa,
João Gomes, Josefa Bassim, Justino Ié
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