sábado, 14 de junho de 2008

Emmanuel Santos


Emmanuel Santos é, desde 2007, presidente do Conselho Nacional da Juventude (C.N.J.). Era ainda estudante, no Liceu Nacional Kwame N’krumah, quando começou a envolver-se com associações e organizações de voluntariado, ligadas à promoção da juventude e à luta por causas nobres, como o ambiente, a paz, a luta contra a SIDA ou o combate à pobreza. Antes de fazer parte da CNJ (2005), foi vice-presidente da Geração Nova Tininguena (2002), organização a que esteve ligado desde 1997. Tem organizado diversos encontros de jovens e actividades culturais: um concerto de RAP logo pós o conflito; o Carnaval; a V Semana Nacional da Juventude; o Campo Nacional de Jovens (Bolama); algumas visitas de estudo. Participou no Fórum Mundial da Juventude, em Dakar (2001) e na Conferência da Juventude da CPLP contra o VIH, em Bissau (2006).

A: Que tipos de delinquência existem em Bissau?
E: Antes de mais, gostaria de dizer que não gosto de expressão 'delinquência juvenil', porque associa indevidamente o mal à juventude. Mas o tipo de delinquência que existe em Bissau é especialmente o roubo, o alcoolismo e o crime ligado à droga.

A: Quais são os factores que conduzem à delinquência?
E: Assistimos ao aumento da pobreza, à falta de emprego, de formação e de saídas profissionais. Em termos gerais, há uma falta de enquadramento sócio-profissional dos jovens. As famílias também não têm capacidade para se auto-sustentar, especialmente em termos médicos. Há uma grande frustração na sociedade, que não vê soluções para estes problemas. E há uma falta de objectivos claros, por parte do governo, para dar resposta aos problemas que a Guiné enfrenta. Esta frustração faz com que muitos jovens não tenham força suficiente para enveredar por melhores caminhos.

A: Como é que sabemos que estamos perante um caso de delinquência?
E: Não considero que o desemprego dos jovens, em si, seja delinquência. É possível identificar um delinquente pelo seu comportamento, como a prática do roubo e o consumo de álcool e drogas. Em Bissau não há uma cultura de grupos de delinquência organizados, mas é um fenómeno que tende a desenvolver-se de forma preocupante. Em parte devido à circulação de pessoas proveniente da entrada do país para a UEMOA, por outro lado devido a um crescente consumo de droga.

A: Quais são as consequências sociais da delinquência juvenil?
E: As consequências são a nível pessoal e social: causa perturbações psicológicas e físicas (vícios, detenção), gera violência, corrupção e descrédito.

A: Como funciona a associação, em que actua e quais são os seus objectivos?
E: A CNJ é, antes de mais, uma plataforma que tem como missão coordenar as confederações e as associações da juventude da Guiné-Bissau. Trabalhamos em cooperação, diálogo e intercâmbio com diferentes parceiros. Em termos de actuação, apontamos para os objectivos referidos nos Estatutos da Acção Juvenil para o Desenvolvimento (ver no final da entrevista*).

A: O que pode ser feito para diminuir a delinquência juvenil?
E: É preciso criar condições de enquadramento educacional e profissional dos jovens. É preciso aproveitar o potencial natural e humano deste país. Olhemos para o exemplo de Cabo-Verde. Por outro lado, temos que ver a família como a base da sociedade e uma célula em que é preciso investir.

A: Há algum caso de que queira falar?
E: Há muitos casos que podem ser referidos. Gostaria de referir um caso de sucesso, em termos de reintegração dos jovens, que é o centro de recuperação de toxicodependentes e alcoólicos em Biombo (Quinhamel).
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*Objectivos do Conselho Nacional da Juventude:

a) Promover iniciativas que visem garantir o desenvolvimento intelectual dos jovens, das mulheres e das crianças, bem como a defesa dos direitos dos mesmos;
b) Contribuir para a elevação do papel das mulheres na vida económica, política, social, cultural e ambiental do país;
c) Lutar contra os flagelos sociais, como a droga, a prostituição, o racismo, a xenofobia e o analfabetismo.
d) Consciencializar os jovens sobre uma cultura de paz, democracia, participação e cidadania, bem como a paixão e o interesse pela formação em vários níveis e áreas;
e) Organizar e realizar actividades culturais e desportivas, igualmente sobre género e qualidade de vida;
f) Labutar pela qualidade ambiental nacional e internacional;
g) Lutar pelo respeito dos direitos e deveres das crianças e do Homem.

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