segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Entrevista a Atchó Express

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Jacinto Mango (conhecido por Atchó Express) foi professor de Língua Portuguesa no liceu Dr. Rui Barcelos da Cunha, e é hoje jornalista da Rádio Sol Mansi, poeta, promotor de eventos culturais no Centro Cultural Português e realizador de filmes e documentários. Foi recentemente transferido para a Secretaria da Cultura e Desportos.
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1. Jornal Anunciador (JA): Fale-nos do seu percurso enquanto professor?
Atchó Express (AE): Antes de ser professor, fui estudante e membro fundador da Associação de Estudantes do liceu Dr. Agostinho Neto em 1991/1992. Comecei a leccionar no liceu Dr. Agostinho Neto depois de terminar a minha formação em Língua Portuguesa (Escola Superior Tchico Té), em 1997/1998; mas antes, em 1995/1996, fui contratado como professor do Ensino Básico. Enquanto professor no liceu Dr. Agostinho Neto, fui também membro da CODAE (Comissão de Actividades Extra Curriculares), chegando mesmo a ser presidente desta comissão. Em 1997, já como professor, fundei o grupo cultural Brigada Cultural Estudantil Dr. Agostinho Neto, sendo o autor de dois hinos de finalistas dos liceus Dr. Agostinho Neto e Dr. Rui Barcelos da Cunha. Sempre fui aquele professor que incluía a formação moral e social na programação das minhas aulas.
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2. JA: O que o motivou então a abandonar esta profissão e a optar pela cultura?
Atchó Express: É simples, trabalhava na Rádio Sol Mansi e ganhei uma bolsa de estudos para o Brasil a fim de fazer o curso de jornalismo. Depois do meu regresso e de começar a trabalhar no Centro Cultural Português, achei por bem abandonar o ensino. Também aconteceu o actual Secretário de Estado da Cultura convidar-me para este sector e eu aceitei. Mas garanto que não deixei de ser professor, até porque tenho um programa na rádio chamado «Prazer da leitura».
Deixei de ser professor de uma turma, ou de giz, mas passei a ser professor de microfone.
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3. JA: Quais as dificuldades que enfrentou quando era professor? E agora como jornalista, é mais fácil ou mais difícil?
Atchó Express: Para dizer a verdade, decidi ser professor para educar os alunos, porque quando era aluno, eu era muito irrequieto, por isso optei por dar aulas. Eu até costumava trabalhar com os alunos um texto de Sebastião da Gama, um grande pedagogo, que mostra quem é o aluno e o professor. Um texto que considero ser um estatuto do professor e dos alunos, mostrando os limites de cada um de nós. Como professor nunca fui humilhado, nem por alunos, nem pelos meus colegas, nunca marquei uma falta disciplinar a um aluno, pois sempre que acontecia algo, tomava sempre um texto que falasse da indisciplina e mostrasse ao aluno onde estava o mal ou então chamava o seu encarregado de educação para conversarmos. Por exemplo, num ano lectivo, numa das minhas aulas numa sala da 9ª classe, perguntei aos alunos quem era São Francisco de Assis e um aluno de respondeu-me que São Francisco de Assis era um jogador de Sporting; então decidi enviá-lo para casa a fim de trazer o seu encarregado de educação para vir à escola, e ele fê-lo passados três dias. Depois analisámos um texto com o título «guarda que comer, não guardes que fazer», da autoria de Castro Pires. O aluno, depois da explicação do texto, pediu desculpas e garantiu nunca mais incomodar as minhas aulas nem as dos outros professores, e muitos professores testemunharam que o aluno mudou.
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4. JA: Para além de professor e jornalista, também é artista, como consegue conjugar estas coisas?
Atchó Express: Uma coisa eu tenho, é o patriotismo. Digo sempre que o guineense tem que ter o hino nacional na boca e a bandeira na cara. Isso permite expressar-me e labutar dando a minha contribuição, seguindo Amílcar Cabral. As minhas profissões ajudam-me a fazer chegar a mensagem. Escrevo poesia e estou a entrar neste momento no mundo do cinema, faço estas coisas com o mesmo objectivo: educar, informar e sensibilizar o meu povo.
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5. JA: Ensino, cultura ou jornalismo? No fundo, qual considera ser a sua verdadeira profissão?
Atchó Express: Eu sou artista e dentro desta profissão é que abro as asas para as outras, porque gosto mais de informar, comunicar ao público.
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6. JA: Foi distinguido como poeta do ano em 2006, foi fácil conseguir esta distinção?
Atchó Express: Não, não foi fácil, mas o importante é trabalhar. Mas consegui-o com o poema “Árvore da Paz” que tem como objectivo anunciar e promover a paz. Fui distinguido como melhor poeta da escola, também no liceu Dr. Agostinho Neto em 1993/1994.
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7. As suas preferências…
Música: Justino Delgado; Dança: Ballet Nacional, Netos de Bandim; Teatro: Os fidalgos; Literatura: Odete Semedo, Abdulai Silá; Cinema: Sana Na N’Hada, Flora Gomes; Pintura/ Escultura: Centro Artístico Juvenil de Bissau.
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Por: Paulo Bem-Obe (professor de Francês)

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