terça-feira, 27 de abril de 2010

As viagens do professor Quintino Na Pana

. Foto: Quintino a atravessar o deserto da Mauritânia de bicicleta

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1 - Gosta de viajar? Porquê?
Gosto de viajar por uma razão muito simples, é que posso ver as diferenças entre vários países, como a Guiné, a Mauritânia, o Senegal, a Gâmbia. Durante a viagem posso conhecer várias pessoas. Viajar é bom, mas é preciso ter coragem.
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2 – Como é que gosta de viajar?
Viajo sempre de bicicleta e sozinho, pedalando. Considero-me um jovem mensageiro da paz. Gosto especialmente de viajar perto do Dia de África, que se celebra a 25 de Maio. Aproveito para meditar e para apelar para que África seja um continente de sossêgo. Os dirigentes políticos também deviam aproveitar esta data para reflectir.
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3- Por que cidades e países é que já viajou?
Fiz duas viagens. A primeira foi em Maio de 2008. Saí de Bissau para Ziguinchor e para a Gâmbia. A segunda foi em Maio de 2009, com partida de Bissau (Guiné-Bissau) para Ziguinchor (Senegal), Banjul (Gâmbia), Kaolak, Fadik, M’bour; Dakar, Tchesse, Louga Kebemer, Saint Louis (cidades do Senegal); depois segui caminho em direcção à Mauritânia, passei de Rosso no Senegal para Rosso na Mauritânia, até Tiguin (uma tabanca situada a 108 Km da capital da Mauritânia, Nuakchot). Ao chegar a Nuackchott coloquei a bicicleta num transporte público e regressei. Nesta segunda viagem andei 1253 quilómetros de bicicleta em oito dias.
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4 - Qual foi a viagem de que mais gostou?
Gostei mais desta última, à Mauritânia. Porque, quando estudava no liceu, ouvia sempre falar do deserto. Esta viagem permitiu-me ver e saber o que de concreto é o deserto. O que lá constatei é fantástico, vi por exemplo pessoas cobrindo sempre a cabeça com lenços de quase 3 a 4 metros de comprimento, protegendo-se das poeiras do deserto e do sol. Eu próprio tive que adquirir este equipamento porque é difícil andar no deserto sem este lenço em volta da cabeça.
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5 - O que leva na mochila?
Levo sempre comigo algumas roupas, água, rebuçados (amêndoas), bolachas, etc.
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6 - Qual é objectivo das suas viagens? Que mensagens leva?
Estou sempre a divulgar a mensagem da Paz para os povos africanos, pensando sempre neles. Nas minhas viagens levo comigo algumas bandas com uns dísticos de paz. Também estou sempre acompanhado da bandeira da Guiné-Bissau, mostrando a minha proveniência, e também tenho uma bandeira branca como símbolo da paz.
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7 - Das cidades que visitou, de qual gostou mais?
Apesar de Bissau ser a cidade onde vivo com a minha família, diria eu que posso viver em qualquer sítio, até mesmo no deserto. Quando cheguei à fronteira da Mauritânia, encontrei um agente da polícia das migrações que me disse: “vais entrar neste país, tens que aceitar viver como os mauritanos”. Esta frase encorajou-me bastante, e até me tirou o preconceito que tinha recebido de algumas pessoas, que me falaram antes de eu viajar para este país, dizendo que os mauritanos são más pessoas. No entanto, fui obrigado a respeitar as regras que lá encontrei e adaptei-me muito rapidamente, graças às minhas boas maneiras.
Alguns mauritanos, quando me viram com a bandeira da Guiné e da paz, deram-me pequenas moedas e leite, e outros até bateram palmas. Antes de regressar à Guiné, fiz um pequeno encontro com a comunidade guineense residente naquele país e ficaram muito satisfeitos.
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8 - Qual é a sua viagem de sonho?
A minha viagem de sonho é chegar à África do Sul de bicicleta, onde está um dos principais símbolos da paz: Nelson Mandela. Gostava de lhe apertar a mão.
9 - Quais foram as principais dificuldades que enfrentou nas suas viagens?
A dificuldade maior é a água ficar sempre quente. Também tenho dificuldade em arranjar dinheiro para a viagem. Cheguei a ficar algumas semanas na Gâmbia, junto com imigrantes guineenses, a trabalhar para ganhar algum dinheiro para o regresso. Outra coisa que me faz falta nestas viagens é uma tenda de campismo, pois facilitaria muito as minhas noites. Finalmente, tenho algum receio de andar nalgumas estradas, onde os carros viajam a alta velocidade.
Por outro lado, tenho sempre a preocupação de me identificar quando chego a cada país, junto do Ministério do Interior. Também entro em contacto com as rádios, para dar notícias, e também costumo contactar com o povo da Guiné-Bissau que está nos países que visito.
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10 - Nas suas viagens houve algum episódio que o tenha marcado mais?
Gostei da experiência na Gâmbia, quando estive a trabalhar com os imigrantes guineenses para arranjar dinheiro.
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11 - Qual é o prato principal em cada país que visitou?
Na Mauritânia o prato principal é carne de camelo. Também provei leite de camelo e é muito bom. No Senegal e na Gâmbia é o tchebdjem: arroz e peixe com especiarias e legumes.
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Quintino Na Pana - professor de Educação Física no Liceu Dr. Rui Barcelos da Cunha

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Entrevista preparada por todos os elementos do Clube e Atelier de Jornalismo
Redacção:
Felismina Mendes e Paulo Bem-Obé

2 comentários:

Pedro José Peixoto disse...

Olá,

Gostei muito deste artigo.
Parabéns ao aventureiro e à malta do Anunciador.

Abraço.

"Anunciador" disse...

Olá Pedro,

A malta agradece a visita!

Abraços da Guiné,

Su